Poucos fármacos inovadores foram desenvolvidos nas últimas décadas, alertam pesquisadores da USP (Foto: Miguel Boyayan / Revista Pesquisa FAPESP)

Apesar de avanços, doenças negligenciadas ainda demandam atenção
11 de fevereiro de 2019
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Poucos fármacos inovadores foram desenvolvidos nas últimas décadas para enfermidades que têm grande peso no mundo todo, alertam pesquisadores da USP em artigo na Lancet Infectious Diseases

Apesar de avanços, doenças negligenciadas ainda demandam atenção

Poucos fármacos inovadores foram desenvolvidos nas últimas décadas para enfermidades que têm grande peso no mundo todo, alertam pesquisadores da USP em artigo na Lancet Infectious Diseases

11 de fevereiro de 2019
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Poucos fármacos inovadores foram desenvolvidos nas últimas décadas, alertam pesquisadores da USP (Foto: Miguel Boyayan / Revista Pesquisa FAPESP)

 

André Julião | Agência FAPESP - Embora contribuam com 11% da incidência de enfermidades no mundo, as chamadas doenças negligenciadas são alvo de uma pequena fração de medicamentos que são desenvolvidos todos os anos.

Entre janeiro de 2012 e setembro de 2018, 256 novos fármacos chegaram ao mercado, mas apenas oito, ou 3,1%, tinham como alvo doenças negligenciadas. A marca atual supera a do período entre 1975 e 1999, quando só 1,1% foi direcionado a elas, mas é menor que a do período de 2000 a 2011 em que 4,3% dos medicamentos novos eram voltados para as negligenciadas.

Assim são chamadas a malária, as doenças diarreicas e a tuberculose, além das 20 doenças tropicais negligenciadas reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como dengue, chikungunya, doença de Chagas, leishmaniose, entre outras.

O levantamento mais recente sobre essas mazelas foi publicado em The Lancet Infectious Diseases. Assinado por dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), mostra que ainda há muito a se fazer, principalmente no que se refere às doenças tropicais negligenciadas.

Nenhuma das novas entidades químicas, entre 2012 e 2018, foi direcionada para doenças tropicais negligenciadas, mas sim para malária e tuberculose. As novas terapias para a tuberculose (bedaquilina), com um novo mecanismo de ação, e para a malária por Plasmodium vivax (tafenoquina) são novidades marcantes nos últimos 40 e 60 anos, respectivamente.

“Os outros seis fármacos aprovados de 2012 para cá para esse grupo de doenças foram reposicionados, biológicos ou novas formulações. Os reposicionados, por exemplo, eram aplicados no tratamento de outras enfermidades e acabaram sendo aprovados para novos usos clínicos. Em todos os casos não se trata do que chamamos de novas entidades químicas, que são fruto de inovação em relação à diversidade química e aplicação terapêutica”, disse Adriano Andricopulo, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e um dos autores do estudo.

O pesquisador assina o texto com Leonardo L. G. Ferreira, que teve bolsa de doutorado e pós-doutorado da FAPESP.

Ambos são pesquisadores do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.

A OMS estabeleceu como meta para 2030 acabar com as epidemias de doenças negligenciadas. Além disso, a Declaração de Londres sobre Doenças Tropicais Negligenciadas, de 2012, estabeleceu planos de ação para controlar, eliminar ou erradicar 10 dessas doenças até 2020.

“Ao incorporar ciência e tecnologia na fronteira do conhecimento, a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas progrediu consideravelmente. No entanto, o estudo revela uma grande distância entre o impacto dessas doenças e o desenvolvimento de novas terapias para elas”, escreveram os autores.

Os pesquisadores destacam, no entanto, o grande avanço que será a liberação do fexinidazol para tratar a tripanossomíase africana humana, em 2019. “Agora está sendo testado para doença de Chagas”, disse Andricopulo.

O pesquisador da USP responde por uma das cinco propostas aprovadas na chamada da FAPESP com o Medical Research Council (MRC) e o Fundo Newton, do Reino Unido, para doenças infecciosas negligenciadas. Nos próximos três anos, os grupos de Andricopulo e de Kevin David Read, da Drug Discovery Unit (DDU) da Universidade de Dundee, na Escócia, vão investigar o uso de produtos naturais bioativos para a descoberta de novos fármacos para o tratamento da leishmaniose e da doença de Chagas.

O artigo da The Lancet Infectious Disease pode ser lido em: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(19)30005-2/.

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