Pesquisa noticiada em Physical Review Letters detectou transferência de energia de elétrons excitados para a rede cristalina na escala do femtossegundo. Conhecimento abre caminho para desenvolvimento de materiais que prolonguem o tempo de coerência (ilustração representa interação entre éxcitons e fônons / imagem: divulgação)

Descoberta de interação ultrarrápida pode viabilizar dispositivos para informação quântica
09 de setembro de 2019
EN ES

Pesquisa noticiada em Physical Review Letters detectou transferência de energia de elétrons excitados para a rede cristalina na escala do femtossegundo. Conhecimento abre caminho para desenvolvimento de materiais que prolonguem o tempo de coerência

Descoberta de interação ultrarrápida pode viabilizar dispositivos para informação quântica

Pesquisa noticiada em Physical Review Letters detectou transferência de energia de elétrons excitados para a rede cristalina na escala do femtossegundo. Conhecimento abre caminho para desenvolvimento de materiais que prolonguem o tempo de coerência

09 de setembro de 2019
EN ES

Pesquisa noticiada em Physical Review Letters detectou transferência de energia de elétrons excitados para a rede cristalina na escala do femtossegundo. Conhecimento abre caminho para desenvolvimento de materiais que prolonguem o tempo de coerência (ilustração representa interação entre éxcitons e fônons / imagem: divulgação)

 

José Tadeu Arantes  |  Agência FAPESP – Energia é informação. Estender o intervalo de tempo no qual um sistema é capaz de reter energia, antes de perdê-la para o meio, constitui um objetivo fundamental para o desenvolvimento da informação quântica. Esse intervalo é denominado “tempo de coerência”. E vários estudos têm sido realizados com o objetivo de retardar o processo de decoerência.

Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW-Unicamp), em parceria com colegas do Departamento de Física da University of Michigan, nos Estados Unidos, e do Instituto Avançado de Nanotecnologia da Sungkyunkwan University, na Coreia do Sul, buscou entender o processo de decoerência na escala de tempos de femtossegundos (10-15 s). Artigo a respeito acaba de ser publicado em Physical Review Letters.

Na pesquisa, interações entre elétrons excitados (éxcitons) e a vibração da rede cristalina (fônons) foram observadas na escala de tempo de femtossegundos. A aplicação de uma técnica revolucionária de espectroscopia ultrarrápida, que permite alta resolução temporal e espectral, foi fundamental para a obtenção do resultado. O estudo teve o suporte da FAPESP no âmbito de um Auxílio à Pesquisa - Jovens Pesquisadores concedido a Lázaro Aurélio Padilha Junior e de um projeto SPRINT (São Paulo Researchers in International Collaboration) conduzido em parceria com a University of Michigan.

Padilha foi um dos coordenadores da pesquisa e o pós-doutorando Diogo Burigo Almeida, na época em Michigan, um dos autores principais. O processo experimental foi realizado com nanocristais semicondutores dispersos em solução coloidal em temperaturas criogênicas.

“Observamos que, quando o material é excitado [pela luz], a luz que ele emite muda de cor em tempo inferior a 200 femtossegundos. Isso se deve à interação do éxciton [o elétron excitado] com o fônon [a excitação da rede cristalina]. O elétron excitado transfere parte da energia que recebeu para a rede. Isso provoca mudança de frequência e, portanto, mudança de cor da emissão”, disse Padilha à Agência FAPESP.

O pesquisador acredita que esta foi a primeira vez que se observou tal tipo de fenômeno. “Não havia sido observado antes porque o deslocamento de energia do elétron para a rede é muito pequeno, de 26 mili-elétron-volts (26x10-3 eV), e o tempo do processo é extremamente curto, menor do que 200 femtossegundos (200x10-15 s). Já haviam sido observados fenômenos similares, porém, ocorrendo em escalas de tempo muito maiores e devido a outros processos. Acessamos relações físicas até então desconhecidas”, disse.

Seu grupo de pesquisa estuda nanomateriais semicondutores com tamanhos da ordem de 1a 10 nanômetros. Um desafio muito grande é que, quando se promove o crescimento desses materiais, cada unidade individual cresce de maneira um pouco diferente das outras. O resultado é que a faixa espectral na qual o conjunto do material emite luz depois de uma excitação se alarga, pois os vários componentes emitem em frequências um pouco diferentes umas das outras. Assim, a luz emitida apresenta uma definição de cor menos precisa. Quando se isola uma partícula única, o espectro da emissão luminosa se estreita, porém, o tempo de detecção do sinal é retardado. Há um ganho de resolução espectral, mas uma perda de resolução temporal.

“Há cerca de cinco anos, começamos a trabalhar com uma técnica que, em um conjunto de 1020 partículas, consegue pinçar subconjuntos com alguns milhares de partículas idênticas. Isso possibilitou que chegássemos agora a uma resolução espectral bastante fina, e por isso precisa, e a uma resolução temporal fina também. Assim, obtivemos para um coletivo de partículas a resolução espectral de uma partícula única, em tempo excepcionalmente curto”, disse Padilha.

Essa solução experimental permitiu que os pesquisadores acessassem processos físicos até então desconhecidos, como a interação ultrarrápida éxciton-fônon. Vale lembrar que, na física da matéria condensada, o fônon é uma quase-partícula associada a um quantum de vibração que se propaga pela rede cristalina.

Não há aplicação tecnológica imediata para os resultados obtidos. Mas o conhecimento das interações físicas que ocorrem na escala de tempo de femtosseguntos pode abrir caminho para que, em um futuro não muito distante, se torne possível controlar a estrutura de materiais de modo a que os elétrons retenham por mais tempo a energia dos impulsos elétricos ou luminosos que os excitam. E, desse modo, retardar o processo de “decoerência” de sistemas quânticos.

“Aumentar o tempo de coerência é uma questão-chave para o sucesso de dispositivos como o chaveador óptico ou o emissor de fóton único. O que se busca, na verdade, é reduzir ao mínimo o desperdício de energia. Quando o material muda de cor, isso significa que ele está perdendo energia. Descobrimos que essa perda é extremamente rápida. E é isso que queremos retardar”, disse Almeida.

O artigo Non-Markovian Exciton-Phonon Interactions in Core-Shell Colloidal Quantum Dots at Femtosecond Timescales, de A. Liu, D. B. Almeida, W. K. Bae, L. A. Padilha, and S. T. Cundiff, pode ser lido em https://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.123.057403.
 

  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.