Avaliação foi feita por participantes da 6ª Conferência FAPESP 60 anos, que reuniu ontem especialistas de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos para tratar de moléstias que afetam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (foto: Daniel Antonio/Agência FAPESP)
Avaliação foi feita por participantes da 6ª Conferência FAPESP 60 anos, que reuniu ontem especialistas de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos para tratar de moléstias que afetam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo
Avaliação foi feita por participantes da 6ª Conferência FAPESP 60 anos, que reuniu ontem especialistas de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos para tratar de moléstias que afetam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo
Avaliação foi feita por participantes da 6ª Conferência FAPESP 60 anos, que reuniu ontem especialistas de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos para tratar de moléstias que afetam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (foto: Daniel Antonio/Agência FAPESP)
André Julião | Agência FAPESP – As relações entre organismos que vivem na natureza envolvem a produção de uma série de compostos que servem, entre outros fatores, para combater adversários. Plantas, fungos e bactérias são alguns dos seres vivos conhecidos por produzir essas substâncias, aproveitadas pela indústria farmacêutica há tempos para tratamento de diversas moléstias, mas que agora têm sido cada vez mais exploradas na busca por fármacos para as chamadas doenças tropicais negligenciadas. Esse foi o tema da 6ª Conferência FAPESP 60 anos, realizada ontem (17/11) e disponível no YouTube.
“As doenças negligenciadas impactam fortemente as regiões mais pobres do planeta, particularmente as tropicais e subtropicais, geralmente com índices de desenvolvimento humano bastante baixos. Doenças como malária, leishmaniose, Chagas, dengue e chikungunya são alguns exemplos com ocorrência no Brasil. Como a população afetada por essas doenças não apresenta um mercado lucrativo para as grandes empresas farmacêuticas, o investimento em pesquisa e desenvolvimento tem ficado aquém do necessário”, disse Ronaldo Aloise Pilli, vice-presidente do Conselho Superior da FAPESP e professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante a abertura do evento.
Como resposta a essa falta de incentivos, explanou, a partir dos anos 2000 várias iniciativas público-privadas foram implementadas visando justamente acelerar a pesquisa e o desenvolvimento nessas áreas de saúde pública.
As doenças negligenciadas são um grupo de 20 moléstias causadas por agentes infecciosos como vírus, bactérias, fungos, parasitas, protozoários e toxinas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças afetam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo, causando grande mortalidade e incapacidade permanente em homens, mulheres e crianças.
“A próxima década será crucial para o futuro da resposta global a essas doenças. O progresso em relação às metas estipuladas pela OMS até 2030 deverá ser constantemente reavaliado para que a resposta global seja capaz de gerar avanços e se alinhar aos desafios de saúde e desenvolvimento, em sincronia com os esforços para alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas”, disse Adriano Andricopulo, professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) e mediador do evento.
Malária e doença de Chagas
“Mesmo diante do fato de que essas doenças afetam 11% da população global, neste século somente uma nova entidade química, o fexinidazol, foi aprovada para o tratamento de uma doença tropical negligenciada específica, a tripanossomíase africana humana”, lembrou Glaucius Oliva, professor do IFSC-USP e coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.
O pesquisador apresentou alguns dos vários projetos desenvolvidos atualmente pelo centro que têm como alvos doenças tropicais negligenciadas. Um deles, liderado por Andricopulo, busca inibidores da enzima cruzaína, presente no Tripanossoma cruzi, parasita causador da doença de Chagas.
Outra iniciativa encontrou potenciais inibidores dos agentes causadores da malária, o Plasmodium falciparum e o Plasmodium vivax, este último responsável pela maioria dos casos na América Latina. Algumas dessas entidades químicas são as marinoquinolinas, originalmente isoladas e identificadas de bactérias marinhas. O projeto é fruto de diversas colaborações nacionais e internacionais, entre elas com a Medicines for Malaria Venture (MMV), iniciativa sem fins lucrativos que financia o desenvolvimento de medicamentos para a doença.
Pesquisador do Wellcome Centre Anti-Infectives Research, Sir Mike Ferguson, professor da Universidade de Dundee, no Reino Unido, é parte da equipe que tem no currículo uma candidata a droga contra a malária em testes clínicos. Com resultados promissores com apenas uma dose, o fármaco deve avançar para a segunda fase do estudo entre este e o próximo ano. O pesquisador destacou a contribuição dos projetos com produtos naturais para a descoberta não só de medicamentos, como de alvos para outras moléculas.
“Se encontramos um produto natural que se mostra muito efetivo em matar o Tripanossoma, por exemplo, e identificamos o alvo molecular em que ele atua, podemos começar um novo programa de descoberta de medicamentos contra aquele alvo, porque ele já foi validado por um produto natural”, explicou o pesquisador.
Fungos e formigas
Enquanto essas doenças têm potenciais tratamentos avançando, a situação das infecções fúngicas piora a cada ano. Com poucos medicamentos existentes para combatê-los e grande capacidade de desenvolver resistência, os fungos provocam grande mortalidade e demandam novos tratamentos com urgência.
“O número de casos de infecções fúngicas sistêmicas é relativamente pequeno, mas os índices de mortalidade são muito altos. Enquanto a taxa de mortalidade para COVID-19 é entre 1% ou 2%, nessas infecções é de 30% a 95%. Mais gente morre de infecções fúngicas invasivas do que de tuberculose ou malária”, disse Jon Clardy, da Harvard University.
Uma esperança reside nas formigas-cortadeiras. Surgidas entre 50 e 60 milhões de anos atrás na Amazônia, elas são conhecidas pela sua capacidade de cultivar fungos, que usam como alimento. A sobrevivência desses insetos, porém, se dá em grande medida pela capacidade de lidar com outro fungo que, se não fosse combatido, acabaria com seus estoques de comida.
Em um projeto financiado pela FAPESP e pelos National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, as equipes de Clardy e Monica Tallarico Pupo, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP) descreveram uma nova entidade química, a attinimicina. Ela está presente em bactérias que colonizam os corpos das formigas e combatem o fungo que ataca seu alimento, em troca de comida (leia mais em: agencia.fapesp.br/35840/).
Como destacou Pilli no início do evento, “as doenças negligenciadas expõem uma das faces mais cruéis da desigualdade social. A química medicinal, juntamente com a química sintética, tem um papel importante no combate a essas endemias”.
Para assistir ao evento na íntegra acesse: https://youtu.be/SeJdnfHnkuc.
Os vídeos das cinco primeiras Conferências FAPESP estão disponíveis em: https://60anos.fapesp.br/conferencias.
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