Após analisar mais de 4 mil iniciativas de crowdfunding, pesquisadores da FGV constataram que não apenas as características do projeto importam, mas também as da cidade onde ele será implementado. A diversificação do rol de recompensas oferecidas aos apoiadores é outro elemento relevante (imagem: Pixabay)
Após analisar mais de 4 mil iniciativas de crowdfunding, pesquisadores da FGV constataram que não apenas as características do projeto importam, mas também as da cidade onde ele será implementado. A diversificação do rol de recompensas oferecidas aos apoiadores é outro elemento relevante
Após analisar mais de 4 mil iniciativas de crowdfunding, pesquisadores da FGV constataram que não apenas as características do projeto importam, mas também as da cidade onde ele será implementado. A diversificação do rol de recompensas oferecidas aos apoiadores é outro elemento relevante
Após analisar mais de 4 mil iniciativas de crowdfunding, pesquisadores da FGV constataram que não apenas as características do projeto importam, mas também as da cidade onde ele será implementado. A diversificação do rol de recompensas oferecidas aos apoiadores é outro elemento relevante (imagem: Pixabay)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) analisaram mais de 4 mil campanhas de crowdfunding (financiamento coletivo) realizadas no Brasil e, pela primeira vez, identificaram os fatores determinantes para que projetos obtenham o aporte desejado dentro do prazo padrão de 60 dias estabelecido pelas plataformas de financiamento coletivo.
Os resultados indicam que não apenas as características do projeto importam, mas também as da cidade onde ele será implementado, bem como a diversificação do rol de recompensas oferecidas para os apoiadores.
“Com a análise, pudemos perceber que, além das características do projeto, fatores como grau de desigualdade, escolaridade e faixa etária dos habitantes da cidade-sede [onde a campanha está sendo realizada] podem ser decisivos para o sucesso das campanhas. Foram conclusões curiosas e que depois tentamos explicar por que elas ocorrem”, conta à Agência FAPESP Wesley Mendes-da-Silva , professor da FGV e autor do artigo publicado no Journal of Business Research.
O estudo foi apoiado pela FAPESP por meio de uma Bolsa no Exterior. A pesquisa foi realizada na Universidade do Texas, em Austin (Estados Unidos).
Tudo ou nada
O financiamento coletivo tem se mostrado uma alternativa para interessados em alavancar um novo projeto. De acordo com Mendes-da-Silva, isso se dá muito mais por as campanhas serem uma possibilidade de conseguir financiamento sem a necessidade de pegar empréstimos bancários do que pela facilidade de obter o dinheiro. Isso porque, estima-se, pouco menos da metade das campanhas é bem-sucedida.
Dessa forma, as iniciativas que seguem a lógica do “tudo ou nada” tem se tornado cada vez mais comuns no Brasil. Geralmente, por meio de uma plataforma na internet, estipula-se um valor total para o projeto e dependendo das doações os financiadores ganham recompensas – na maioria dos casos recebem livros, camisetas, pôsteres ou até cursos e palestras on-line.
Em todas as campanhas há um prazo previamente estipulado para as arrecadações. Se ao final desse período o montante total não for atingido, as doações são devolvidas e o projeto não é iniciado.
Mendes-da-Silva explica que o tempo é um fator crucial. “A resposta vem logo no começo. O crescimento de arrecadação se dá em L, ou seja, ocorre uma contribuição muito grande no começo, que vai caindo e se estabiliza com o passar dos dias. Isso para as campanhas bem-sucedidas. As que fracassam já começam com pouca arrecadação”, diz.
De acordo com o pesquisador, se na primeira semana a campanha não tem um boom de contribuições, é um sinal muito forte de que ela não vai conseguir atingir seu objetivo financeiro.
Como alavancar um projeto
Um achado curioso do estudo foi que as campanhas que alcançam sucesso mais rapidamente estão localizadas predominantemente em cidades com maior desigualdade de renda. “Isso porque muita gente faz a alocação de recursos para crowdfunding quando se identifica com a situação potencial de colaborar para reduzir desigualdade”, diz o pesquisador.
O estudo também identificou que metas de arrecadação muito altas tendem a influenciar negativamente o sucesso da empreitada e, portanto, seria ideal fatiar esse valor em duas ou mais campanhas. O número de recompensas para os doadores também pode ser determinante. Quanto maior a variedade de brindes oferecidos como agradecimento aos colaboradores, menor o tempo para se obter sucesso na campanha.
O estudo utilizou um modelo de análise chamado modelo de sobrevivência. “É um método típico da medicina e usado para determinar, por exemplo, o tempo de sobrevivência depois que um paciente tem um infarto. Essa e outras situações podem ser calculadas a partir de variáveis do paciente como idade, peso, altura, fator genético”, explica.
“Em nosso trabalho, usamos as características da campanha como as variáveis desse modelo. Assim, mensuramos informações como valor do investimento, nível de arrecadação, variedade de recompensas oferecidas em troca de um aporte de capital”, diz.
Os resultados do estudo já estão tendo desdobramentos. Mendes-da-Silva está realizando um outro projeto em parceria com o Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para desenvolver um algoritmo que facilite o desenho das campanhas.
“Estamos desenvolvendo um modelo de previsão de sucesso utilizando metodologia de inteligência artificial. Com isso, esperamos oferecer para os donos de plataformas um algoritmo que possa ajudá-los a, antes mesmo que a campanha possa ser iniciada, ter uma estimativa do quanto ela pode ser exitosa ou não. Isso é positivo para todos: o dono da plataforma, o dono do projeto e os próprios financiadores”, afirma.
O artigo Reward crowdfunding campaigns: Time-to-success analysis (doi: 10.1016/j.jbusres.2021.09.004), de Israel José dos Santos Felipe, Wesley Mendes-Da-Silva, Cristiana Cerqueira Leal e Danilo Braun Santos, pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0148296321006494?dgcid=author.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.