Conclusão é de estudo conduzido na UFSCar, que analisou dados de 3.875 idosos acompanhados ao longo de oito anos. Resultados foram divulgados no American Journal of Clinical Nutrition (foto: Pixabay)
Conclusão é de estudo conduzido na UFSCar, que analisou dados de 3.875 idosos acompanhados ao longo de oito anos. Resultados foram divulgados no American Journal of Clinical Nutrition
Conclusão é de estudo conduzido na UFSCar, que analisou dados de 3.875 idosos acompanhados ao longo de oito anos. Resultados foram divulgados no American Journal of Clinical Nutrition
Conclusão é de estudo conduzido na UFSCar, que analisou dados de 3.875 idosos acompanhados ao longo de oito anos. Resultados foram divulgados no American Journal of Clinical Nutrition (foto: Pixabay)
Agência FAPESP – Estudo conduzido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sugere que profissionais de saúde podem detectar muito precocemente o declínio funcional em um paciente idoso, ou seja, a redução na capacidade de realizar tarefas do dia a dia de forma independente, observando seu desempenho em tarefas simples, como sentar e levantar de uma cadeira, se equilibrar parado ou andar uma curta distância. Segundo a pesquisa, divulgada no American Journal of Clinical Nutrition, esse indicador é válido principalmente para homens com obesidade abdominal e fraqueza muscular.
O estudo foi realizado durante o doutorado de Roberta de Oliveira Máximo no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar, com apoio da FAPESP e orientação do professor Tiago da Silva Alexandre. E contou com a participação de pesquisadores da University College London, no Reino Unido. O grupo analisou dados de 3.875 idosos ingleses acompanhados por oito anos. Os voluntários tiveram o desempenho físico avaliado pelo Short Physical Performance Battery (SPPB), uma bateria de testes conhecida por profissionais de saúde que inclui a combinação de sentar e levantar da cadeira, equilíbrio estático e caminhada por 2,4 metros.
“O comprometimento no desempenho físico é o primeiro indicador de função prejudicada em idosos e é considerado uma fase de transição pré-clínica para incapacidade, ou seja, aparece antes das dificuldades em atividades cotidianas, como usar transporte, fazer compras, cuidar da casa e roupas, preparar refeições, tomar banho, se vestir, ir ao banheiro e se alimentar”, conta Alexandre. “Assim, sua descoberta precoce poderia evitar incapacidades em atividades de vida diária nessa população.”
Como explica o pesquisador, o desempenho físico (ou desempenho físico funcional) é uma avaliação objetiva do estado funcional, que envolve a realização de uma tarefa específica avaliada por critérios predeterminados (escores, contagem de repetições ou tempo da atividade). Difere da avaliação subjetiva do estado funcional, que envolve o autorrelato de atividades funcionais que o indivíduo faz ou não.
O comprometimento no desempenho físico é considerado como o sexto sinal vital na avaliação de idosos. Aplicar a bateria completa do SPPB leva cerca de 15 minutos e pode ter algum poder explicativo adicional ao teste isolado de velocidade de caminhada, às custas de um pouco mais de tempo de aplicação.
Em trabalho anterior, o grupo havia demonstrado que a lentidão ao caminhar pode ser considerada, isoladamente, um indicador de risco aumentado para a perda da capacidade de realizar atividades cotidianas (leia mais em: agencia.fapesp.br/37887).
“O pior desempenho no SPPB parece ser algo ainda mais precoce que a lentidão na velocidade de caminhada”, afirmam os pesquisadores da UFSCar.
Diferentes tipos de obesidade
De acordo com o novo estudo, apenas um grupo específico de homens idosos apresentou maior comprometimento no desempenho físico ao longo do tempo de acompanhamento: aqueles que tinham a combinação de obesidade abdominal e fraqueza muscular – condição conhecida como dinapenia. Esse fenótipo é comum entre idosos e reconhecido no meio científico pelo nome de “obesidade abdominal dinapênica”.
Na pesquisa, essa condição foi caracterizada pela circunferência de cintura acima de 102 centímetros (cm) para homens e maior do que 88 cm para mulheres, bem como pela força de preensão manual abaixo de 26 quilos (kg) para homens e menor do que 16 kg para mulheres. Esse último parâmetro é medido por meio de um teste em que o voluntário aperta com as mãos um aparelho chamado dinamômetro. Os valores obtidos no teste são usados como referência para analisar a força muscular em todo o corpo.
“Com o processo de envelhecimento, homens e mulheres apresentam perda de força muscular acompanhada por um acúmulo de gordura abdominal. Contudo, a situação é pior para o sexo masculino. Os homens perdem mais força muscular do que as mulheres ao longo da vida e já apresentam uma tendência ao acúmulo de gordura abdominal antes mesmo do processo de envelhecimento. A gordura abdominal é mais ativa metabolicamente e gera uma inflamação crônica de baixo grau, levando a repercussões negativas sobre a função muscular. Isso explica as diferenças entre os sexos e a razão pela qual a obesidade abdominal dinapênica afeta mais o desempenho físico em homens”, explica Máximo.
A situação é diferente quando, em vez de avaliar a obesidade abdominal, se avalia a obesidade geral pelo índice de massa corporal (IMC, calculado dividindo o peso da pessoa pela altura elevada ao quadrado). Nesse caso, obesidade geral combinada com dinapenia não se relacionou com a pior trajetória do desempenho físico nem em homens nem em mulheres, sugerindo que a avaliação da obesidade pelo IMC não é capaz de capturar as mudanças de distribuição de gordura corporal que acontecem com o envelhecimento e que impactam o desempenho físico.
O estudo traz outro dado importante: nem a obesidade abdominal nem a dinapenia isoladas foram associadas com o pior desempenho físico de idosos ao longo do tempo, demonstrando que levar em conta a avaliação separada dessas duas condições no lugar do fenótipo de obesidade abdominal dinapênica pode subestimar um real problema futuro de diminuição do desempenho físico em idosos.
Na avaliação de Alexandre, uma das mensagens principais da pesquisa é que a identificação e o manejo clínico do fenótipo da obesidade abdominal dinapênica são essenciais para evitar os primeiros sinais de declínio funcional em homens idosos.
“A importância clínica desse achado é que, embora a obesidade abdominal dinapênica seja uma condição associada ao envelhecimento, ela é potencialmente modificável. Mas quando negligenciada tem importantes repercussões sobre o estado funcional, especialmente em homens. A conduta a ser adotada, segundo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde de 2020, é que os idosos, com 65 anos ou mais, incorporem uma variedade de exercícios aeróbicos e de atividades de fortalecimento muscular. Idosos devem fazer pelo menos 150 a 300 minutos de exercícios de intensidade moderada ou 75 ou 150 minutos de exercícios aeróbicos vigorosos ao longo da semana. Como parte de sua atividade física semanal, os idosos também devem fazer treinamento de força que envolvam todos os principais grupos musculares em três ou mais dias da semana”, recomenda o pesquisador.
A pesquisa também recebeu financiamento da FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa - Apoio a Jovens Pesquisadores concedido a Alexandre.
O artigo Combination of dynapenia and abdominal obesity affects long-term physical performance trajectories in older adults: sex differences pode ser acessado em: https://academic.oup.com/ajcn/advance-article/doi/10.1093/ajcn/nqac023/6518277.
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