Trabalho envolveu 146 pacientes – 74 deles tratados com soro antiaracnídico produzido no Instituto Butantan. Resultados mostram que substância é segura e eficaz, especialmente se aplicada nas primeiras 48 horas após o acidente (foto: Denise Candido)
Trabalho envolveu 146 pacientes – 74 deles tratados com soro antiaracnídico produzido no Instituto Butantan. Resultados mostram que substância é segura e eficaz, especialmente se aplicada nas primeiras 48 horas após o acidente
Trabalho envolveu 146 pacientes – 74 deles tratados com soro antiaracnídico produzido no Instituto Butantan. Resultados mostram que substância é segura e eficaz, especialmente se aplicada nas primeiras 48 horas após o acidente
Trabalho envolveu 146 pacientes – 74 deles tratados com soro antiaracnídico produzido no Instituto Butantan. Resultados mostram que substância é segura e eficaz, especialmente se aplicada nas primeiras 48 horas após o acidente (foto: Denise Candido)
Thais Szegö | Agência FAPESP – Um dos efeitos mais temidos da picada de aranha-marrom – como são popularmente conhecidos os aracnídeos do gênero Loxosceles – é o surgimento de uma lesão necrosante na pele. Mas, como demonstrou um estudo clínico recentemente publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, o problema pode ser prevenido com um soro antiaracnídico, especialmente se ele for aplicado nas primeiras 48 horas após o acidente.
No trabalho, foi usado um soro produzido no Instituto Butantan. Como explicam os autores, até então não havia um consenso sobre qual é a melhor estratégia para evitar ulceração e necrose nos casos de envenenamento por aranha-marrom. Uma pesquisa feita em 2009 com coelhos já havia demonstrado que, mesmo quando a substância foi injetada dois dias após o envenenamento, a lesão necrótica foi aproximadamente 30% menor.
“Entretanto, não havia até o momento nenhum estudo clínico mostrando se esse antiveneno evitaria a necrose cutânea e até quanto tempo após o acidente seria adequado administrar o soro”, conta Ceila Maria Sant'Ana Málaque, médica do Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan e da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, especializada em acidentes com animais peçonhentos e doenças infecciosas e parasitárias.
Para obter essas respostas, cientistas do Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan fizeram um estudo prospectivo observacional que durou seis anos (de novembro de 2014 a novembro de 2020) e envolveu 146 pacientes, dos quais 74 receberam o soro e 72 não.
“Como o uso do antiveneno é uma orientação do Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, não pudemos fazer um estudo duplo-cego e randomizado, por isso analisamos os pacientes que receberam o soro quando ainda não apresentavam necrose da pele, de acordo com a avaliação realizada na admissão”, explica Málaque, primeira autora do artigo.
No grupo-controle, portanto, foram incluídos pacientes admitidos com mais de 48 horas após a picada e que não haviam recebido o antiveneno.
A investigação foi conduzida no âmbito de um projeto financiado pela FAPESP e coordenado por Marcelo Larami Santoro, pesquisador do Butantan e coautor do artigo.
Perigo silencioso
A picada da aranha-marrom muitas vezes não é percebida ou valorizada pelos pacientes. A lesão na pele evolui progressivamente nas primeiras 24 horas após o acidente.
O loxoscelismo cutâneo é caracterizado por uma mancha dolorida na região da picada, onde surge uma mistura de áreas de cor violeta e áreas pálidas, por isso ela recebe o nome de “mancha marmórea”. Alguns casos evoluem para a necrose da pele. Há pacientes que desenvolvem um quadro denominado loxoscelismo cutâneo hemolítico, caracterizado por uma lesão na pele associada ao rompimento das hemácias (as células vermelhas do sangue), causando anemia e até insuficiência renal aguda.
Foram convidados a participar do trabalho aqueles pacientes que receberam o diagnóstico de loxoscelismo por meio de uma anamnese e exame físico cuidadosos e descartados outros diagnósticos diferenciais.
“É importante lembrar que esse estudo foi realizado no Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan, uma instituição de referência com vasta experiência em acidentes com animais peçonhentos. Caso houvesse qualquer dúvida quanto ao diagnóstico, o indivíduo não seria incluído no estudo”, ressalta Málaque.
A pesquisadora destaca ainda que em todos os trabalhos publicados sobre loxoscelismo a frequência de identificação da aranha causadora é baixa, menos de 15%, já que na maioria das vezes não há acesso ao animal. Segundo Málaque, o diagnóstico é construído a partir de informações sobre como foi o acidente, primeiros sinais e sintomas, evolução da lesão cutânea e alterações sistêmicas, entre outros.
A partir dos dados coletados no trabalho ficou evidente que os participantes admitidos até 48 horas após o acidente e que receberam o antídoto apresentaram menor frequência de necrose do que aqueles que chegaram ao hospital depois desse período e que não receberam o antídoto. Além disso, a administração da substância se mostrou segura e com baixa incidência de efeitos adversos.
O artigo Impact of antivenom administration on the evolution of cutaneous lesions in loxoscelism: A prospective observational study pode ser lido em: https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0010842.
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