Iniciativas desenvolvidas por Elsevier, Royal Society of Chemistry, NRF e DFG foram apresentadas em evento realizado em Haia, nos Países Baixos (foto:Karina Toledo/Agência FAPESP)
Iniciativas desenvolvidas por Elsevier, Royal Society of Chemistry, NRF e DFG foram apresentadas em evento realizado em Haia, nos Países Baixos
Iniciativas desenvolvidas por Elsevier, Royal Society of Chemistry, NRF e DFG foram apresentadas em evento realizado em Haia, nos Países Baixos
Iniciativas desenvolvidas por Elsevier, Royal Society of Chemistry, NRF e DFG foram apresentadas em evento realizado em Haia, nos Países Baixos (foto:Karina Toledo/Agência FAPESP)
Karina Toledo, de Haia | Agência FAPESP – Tornar o ecossistema de pesquisa mais diverso e inclusivo tem sido, nos últimos anos, uma das principais preocupações do Global Research Council (GRC) – entidade que congrega representantes das principais agências de fomento público à pesquisa do mundo. E há entre os membros do conselho um entendimento de que, para promover mudanças estruturais e de impacto nessa direção, é preciso aprimorar os métodos de coleta de dados – sobretudo no que se refere a informações relativas às dimensões étnica e racial dos pesquisadores.
O grande desafio, porém, é que esse tipo de dado é considerado sensível, pois, se vazado, pode deixar os indivíduos suscetíveis a práticas abusivas ou de discriminação. Para trocar experiências nessa área e buscar meios de superar os obstáculos, representantes da FAPESP e de duas grandes editoras científicas – a Elsevier e a Royal Society of Chemistry – promoveram um evento na terça-feira (30/05) em Haia, nos Países Baixos. O encontro integrou a programação da Reunião Anual do Global Research Council (GRC) de 2023.
“Começamos a discutir esse tema em 2021 com a Royal Society of Chemistry e algumas agências de fomento, entre elas a FAPESP, a DFG [German Research Foundation, da Alemanha] e a NRF [National Research Foundation, da África do Sul]. Já foram feitos dois workshops anteriores, nos quais identificamos algumas ideias interessantes. Funders [financiadores] e publishers [editoras] podem trabalhar juntos em direção a um objetivo comum, que é a obtenção de dados que permitam às organizações estruturar planos de ação e fazer o monitoramento desses planos”, contou Carlos Henrique de Brito Cruz, vice-presidente sênior de Redes de Pesquisa da Elsevier e ex-diretor científico da FAPESP, que foi o moderador do debate.
Representando a FAPESP estava Ana Maria Fonseca de Almeida, uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho sobre Gênero do GRC (Gender Working Group), que foi recentemente renomeado Grupo de Trabalho sobre Igualdade, Diversidade e Inclusão (EDI, na sigla em inglês) e teve seu escopo ampliado, passando a abordar o tema a partir de aspectos que vão além de sexo e gênero, considerando também raça, etnia, idade e deficiência, entre outros fatores (leia mais em: fapesp.br/16123/).
“Editoras e financiadores têm papéis diferentes no ecossistema de pesquisa. As agências atuam no início do processo, provendo fundos, equipamentos, viagens etc. E as editoras atuam no fim do ciclo, quando a hipótese já foi testada. Mas ambos desempenham funções importantes de gatekeeping [escolher o que é relevante e deve ser abordado] no ecossistema de pesquisa. Quando usamos o processo de revisão por pares para selecionar quem financiar ou para selecionar qual artigo publicar, gerenciamos como a comunidade científica se vê”, comentou Fonseca.
Jo Reynolds, diretora de Ciência e Comunidades da Royal Society of Chemistry, contou que a entidade divulgou em 2018 um relatório sobre a diversidade na área de química que evidenciou a falta de progresso no que se refere à inclusão de mulheres em posições de liderança.
“Ainda há barreiras que atrapalham o progresso, criam incerteza e pressão desnecessárias e dificultam a conciliação do trabalho com outras responsabilidades”, relatou.
A partir desse trabalho, o grupo desenvolveu um guia prático que visava reduzir ao máximo os vieses de gênero em cada etapa do processo de publicação de artigos científicos. “Mas sabíamos que o impacto seria limitado se outros publishers não começassem a agir da mesma forma. Então criamos um compromisso conjunto em prol da inclusão e diversificação, que já foi assinado por 56 organizações que representam mais de 1.500 revistas científicas.”
Em março de 2022 a Royal Society of Chemistry divulgou outro relatório que tratou das dimensões étnica e racial da diversidade na área de química, contou Joanna Jasiewicz, que coordena a Unidade de Raça e Etnia da entidade.
“O relatório mostrou que, após a graduação, estamos perdendo químicos negros em uma taxa alarmante [porque abandonam a carreira após a formatura]. Ao ponto que, estatisticamente falando, há 0% de professores de química [de ensino superior] negros no Reino Unido. E quando falamos de professoras negras o número é realmente zero. Observamos a mesma tendência quando olhamos os dados de filiação [à Royal Society of Chemistry]. E não teve uma mudança significativa nos últimos dez anos”, relatou.
Um programa intitulado Missing Elements Grants Scheme foi lançado para tentar reverter o quadro. Além de financiamento, a iniciativa oferece mentoria, ajuda com networking e outros auxílios.
Critérios variáveis
Ao comentar sobre os workshops anteriores promovidos pelo grupo, Max Voegler, vice-presidente de Redes Estratégicas Globais da Elsevier, explicou por que coletar dados sobre raça e etnia é uma tarefa bem mais complexa do que obter informações sobre o gênero dos pesquisadores. Um dos motivos é que as categorias de autoidentificação podem variar de acordo com a região geográfica e com o passar dos anos. Além disso, há diferentes formas de estabelecer a identidade étnica, que pode considerar aspectos físicos, culturais (língua e religião, por exemplo) ou geográficos.
“Dificilmente haverá um instrumento perfeito, capaz de captar todas essas nuances. Nos workshops anteriores discutimos como fazer essa coleta de dados e também por que fazê-la. Como o dado será usado? Qual é o nível de detalhe necessário?”, relatou Voegler. Parte do trabalho realizado foi apresentada no evento por Holy Falk, também da Elsevier.
Eva Reichwein, vice-chefe da Divisão de Igualdade de Oportunidades, Integridade de Pesquisa e Desenvolvimento de Programas da DFG, relatou algumas medidas que a agência alemã tem implementado para promover um cenário de pesquisa que reflita a diversidade da sociedade e ofereça igualdade de oportunidades. As iniciativas foram reunidas em um estatuto disponível on-line. E têm sido apresentadas em workshops que a DFG promove nas universidades.
Já a diretora-executiva da NRF, Gugu Moche, falou sobre o Black Academics Advancement Programme, que busca aumentar a proporção de negros adequadamente qualificados nas universidade sul-africanas. À Agência FAPESP, ela afirmou que o maior desafio em seu país é aumentar o financiamento à pesquisa de modo geral. “Temos muitas pessoas que se qualificam, mas não há recursos suficientes”, disse.
Para mais informações sobre a Reunião Anual do GRC acesse: fapesp.br/grc23.
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