A soma total de participantes dos 14 estudos resultou em uma amostra de 818 profissionais (imagem: Freepik*)
Revisão sistemática de 14 pesquisas realizadas em sete países detectou diminuição estatisticamente significativa de condições adversas de saúde mental após o tratamento com a técnica conhecida como ‘atenção plena’
Revisão sistemática de 14 pesquisas realizadas em sete países detectou diminuição estatisticamente significativa de condições adversas de saúde mental após o tratamento com a técnica conhecida como ‘atenção plena’
A soma total de participantes dos 14 estudos resultou em uma amostra de 818 profissionais (imagem: Freepik*)
Ricardo Muniz | Agência FAPESP – Estudo que envolveu cientistas de três instituições brasileiras e foi publicado na revista Archives of Psychiatric Nursing verificou que a prática de mindfulness, também conhecida como atenção plena, ajuda profissionais de enfermagem a gerenciar seus níveis de ansiedade e estresse. A metodologia adotada pelos autores foi a revisão sistemática, garimpando e examinando 14 estudos anteriores sobre o mesmo tema, conduzidos em sete países diferentes. Para organizar e analisar os dados de forma coerente, foi empregada metanálise, técnica estatística que permite combinar resultados de diversas pesquisas, possibilitando conclusões mais precisas e confiáveis sobre o assunto investigado. A metanálise revelou uma diminuição estatisticamente significativa da ansiedade e do estresse após o tratamento.
A busca em sete bases de dados, entre elas Web of Science e Scopus, foi realizada em outubro de 2022. Foram selecionados inicialmente 861 artigos. Após uma triagem mais cuidadosa, 14 trabalhos foram escolhidos para a revisão sistemática: três conduzidos na Austrália, dois nos Estados Unidos, um em Portugal, dois na China, dois no Brasil, três na Malásia e um em Taiwan. A metanálise abarcou 13 dos 14 artigos. Com exceção de uma pesquisa feita com profissionais de saúde de uma casa de repouso (Long-Term Care), todas foram feitas em hospitais.
Na enfermagem existem diferentes categorias profissionais, entre elas enfermeiro, auxiliar de enfermagem e técnico de enfermagem. A amostragem de dez estudos foi composta exclusivamente por enfermeiros. Nos outros quatro estudos incluídos na revisão, a composição foi diferente: um deles envolveu enfermeiros e técnicos de enfermagem, outro incluiu auxiliares de enfermagem, técnicos e enfermeiros, um terceiro contou apenas com auxiliares de enfermagem certificados, enquanto o quarto teve apenas técnicos de enfermagem como participantes. A soma total de participantes dos 14 estudos resultou em uma amostra de 818 profissionais na revisão sistemática.
“Além de estudos robustos sobre o adoecimento de trabalhadoras de enfermagem e o aumento da utilização da prática do mindfulness, percebeu-se a importância de explorar esse tipo de intervenção para o manejo da ansiedade naquele grupo, combinando as duas frentes de pesquisa anteriores”, explica Karen de Oliveira Santana, especialista em saúde mental e psiquiátrica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), mestranda em cuidado em saúde pela Escola de Enfermagem (EE-USP) e uma das autoras do artigo. Ela explica que a atenção plena propõe focar no momento presente de maneira intencional e sem julgamento, a fim de observar as sensações físicas, pensamentos e sentimentos sem reagir de forma impulsiva ou automática. Envolve uma série de práticas meditativas, exercícios de respiração e outras formas de autoconsciência. “Isso possibilita uma pausa entre o estímulo e a resposta, o que favorece pensar conscientemente antes de agir. As técnicas de respiração e meditação promovem o relaxamento físico e mental, ajudando a aliviar a tensão relacionada à ansiedade e ao estresse e contribuindo para uma maior consciência das próprias necessidades”, afirma Santana.
Da EE-USP, também assinam o artigo Caroline Figueira Pereira e Divane de Vargas (docentes), Manuela Silva Ramos (graduada) e Roni Robson da Silva (mestrando). As duas outras autoras são Maria Neyrian de Fátima Fernandes, professora adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e Edilaine Cristina da Silva Gherard-Donato, doutora em enfermagem psiquiátrica e professora titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP).
Santana ressalva que a adoção do mindfulness entre equipes de enfermagem não significa anular as demandas objetivas da área. “É possível manejar os sintomas de ansiedade e estresse nesse grupo, mas é preciso olhar também para o que gera tais sintomas.”
As condições de trabalho das equipes de enfermagem incluem longas jornadas, exposição constante a doenças, desvalorização profissional e baixos salários, o que intensifica o risco de adoecimento nessa profissão, avalia a pesquisadora. “Sendo majoritariamente feminina, a enfermagem também sofre com as dinâmicas de gênero. Além das exigências no ambiente de trabalho, muitas profissionais ainda precisam lidar com as demandas domésticas culturalmente atribuídas às mulheres, exacerbando ainda mais o desgaste.”
A pesquisa contou com apoio da FAPESP.
No relatório Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou o Brasil como o país com a maior proporção de pessoas ansiosas em relação à sua população total (9,3%). “Melhorar a qualidade de vida da equipe de enfermagem significa também melhorar a qualidade do cuidado prestado à população”, afirma Santana.
O artigo The effectiveness of mindfulness for the management of anxiety in the nursing staff: Systematic review and meta-analysis pode ser lido aqui: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S088394172400061X.
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