Análises do genoma completo de 1.171 idosos de São Paulo possibilitarão identificar mutações responsáveis por doenças ou que são determinantes para o envelhecimento saudável (imagem: Miroslaw Miras/Pixabay)

Banco genômico brasileiro permitirá aprimorar o diagnóstico de doenças genéticas no país
07 de março de 2022
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Análises do genoma completo de 1.171 idosos de São Paulo possibilitarão identificar mutações responsáveis por doenças ou que são determinantes para o envelhecimento saudável

Banco genômico brasileiro permitirá aprimorar o diagnóstico de doenças genéticas no país

Análises do genoma completo de 1.171 idosos de São Paulo possibilitarão identificar mutações responsáveis por doenças ou que são determinantes para o envelhecimento saudável

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Análises do genoma completo de 1.171 idosos de São Paulo possibilitarão identificar mutações responsáveis por doenças ou que são determinantes para o envelhecimento saudável (imagem: Miroslaw Miras/Pixabay)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – Um banco de dados genômicos de idosos de São Paulo, desenvolvido por pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL), do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), permitirá identificar mutações responsáveis por doenças genéticas na população brasileira ou que são determinantes para o envelhecimento saudável.

Os dados individuais já estão disponíveis para a comunidade científica, mediante a solicitação de download, e os agregados começaram a ser disponibilizados nos últimos anos no Arquivo Brasileiro On-line de Mutações (ABraOM).

Resultados obtidos por meio de análises feitas a partir do banco genômico foram descritos em artigo publicado nesta sexta-feira (04/03) na revista Nature Communications.

Descobertas preliminares foram publicadas em 2020 na plataforma bioRxiv, em artigo sem revisão por pares (leia mais em: agencia.fapesp.br/34174).

“Desde que os dados começaram a ser disponibilizados foram registrados diversos acessos de pesquisadores do Brasil e do exterior ao repositório. Isso demonstra a importância dessa iniciativa para a comunidade científica”, diz à Agência FAPESP Mayana Zatz, professora do IB-USP e coordenadora do CEGH-CEL – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.

O banco é resultado de um estudo pioneiro de sequenciamento de 1.171 genomas completos de idosos brasileiros, representando a maior coorte de genomas de idosos da América Latina.

A pesquisa, denominada inicialmente “Projeto 80mais”, foi iniciada em 2008 com o objetivo de caracterizar o genoma de idosos saudáveis dos pontos de vista físico e cognitivo, com o intuito de dar origem a um banco de referência genômica da população brasileira e contribuir para desvendar os fatores envolvidos com o envelhecimento saudável.

Com média de idade de 71 anos e não aparentados, os idosos foram selecionados por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP no âmbito do Projeto Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe), apoiado pela FAPESP.

Iniciado em 2000 e coordenado pelas professoras Maria Lúcia Lebrão e Yeda Duarte, o Sabe tem o objetivo de traçar o perfil das condições de vida e saúde de idosos que residem na cidade de São Paulo e em outros centros urbanos da América Latina e do Caribe a partir de entrevistas domiciliares, avaliações e exames médicos.

“O estudo é representativo da população idosa de São Paulo porque é baseado no censo do município paulista e inclui pessoas de todos os níveis socioeconômicos”, avalia Zatz.

População altamente miscigenada

Os idosos foram escolhidos como população-alvo para sequenciamento do genoma por já terem passado da idade de início de manifestação de uma série de doenças que surgem na velhice, como o Alzheimer e Parkinson, entre outras.

O fato de morarem em São Paulo, a maior metrópole do país, também permitiu que representem a diversidade genética da população brasileira, que é altamente miscigenada, afirma Zatz.

“São Paulo é a cidade mais miscigenada do Brasil, porque reúne descendentes de imigrantes de diferentes continentes, como Europa, Ásia e África, além de pessoas nascidas em vários outros Estados e países”, avalia a pesquisadora.

Essa alta diversidade genética dos idosos paulistas participantes do estudo permitirá preencher a lacuna da baixa representatividade de populações altamente miscigenadas nos bancos genômicos internacionais, baseados preponderantemente na população europeia, apontam os autores do estudo.

Os pesquisadores identificaram, por exemplo, cerca de 2 milhões de variantes genéticas nos idosos paulistas até então não descritas em bancos de dados genômicos internacionais.

“Isso está relacionado com o fato de os bancos genômicos internacionais retratarem mais o genoma de referência europeu. É possível que esse número de 2 milhões de novas variantes genéticas que encontramos diminua à medida que esses repositórios incluam populações pouco representadas, como a brasileira”, estima Michel Naslavsky, professor do IB-USP e primeiro autor do estudo.

O aumento da diversidade nos bancos genômicos internacionais também permitirá aprimorar a acurácia de testes genéticos para populações altamente miscigenadas, como a brasileira e de outros países da América Latina, em geral, avaliam os pesquisadores.

Análises feitas nos genomas dos idosos que integram o banco genômico brasileiro revelaram que eles carregam, por exemplo, variantes genéticas classificadas nos bancos genômicos europeus como patogênicas, mas que eles não manifestam as doenças relacionadas a essas mutações.

“Uma das hipóteses que estamos levantando para isso é a de que variantes genéticas até então classificadas como patogênicas podem se expressar de modo diferente de acordo com o background genético do indivíduo, como o europeu ou o miscigenado”, diz Naslavsky.

Os pesquisadores também constataram que os idosos brasileiros são portadores de variantes associadas a doenças recessivas comuns tanto em europeus como em africanos, como a fibrose cística. A frequência de pessoas heterozigotas – portadoras de uma variante recessiva – permite estimar a incidência dessas doenças na população.

“No caso da população brasileira, estimamos que a incidência de fibrose cística é de um caso a cada 10 mil nascimentos. Essa informação é muito importante para programas públicos de aconselhamento genético a casais em idade reprodutiva em relação aos riscos de terem filhos com doenças genéticas graves”, avalia Zatz.

Por meio da análise dos dados genômicos dos idosos também foi possível identificar novas variantes de genes do sistema imunológico (HLA), que codificam proteínas importantes na resposta imune ao permitir o reconhecimento de patógenos.

De acordo com os pesquisadores, esses genes são conhecidos por serem os mais variáveis e diversos da espécie humana, o que os tornam difíceis de serem analisados.

Por meio da aplicação de uma técnica especializada para descrever esses genes foram encontradas mais de 140 combinações nunca descritas. Esses achados são importantes para estudos sobre suscetibilidade ou resistência a infecções por diversos patógenos, incluindo o SARS-CoV-2, sublinham.

O artigo Whole-genome sequencing of 1,171 elderly admixed individuals from São Paulo, Brazil pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-022-28648-3.

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