Reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras de centros criaram a Rede Equidade, que visa elaborar uma política que considere as articulações entre gênero e outras diferenças e desigualdades em universidades e institutos de educação (imagem: reprodução)
Reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras de centros criaram a Rede Equidade, que visa elaborar uma política que considere as articulações entre gênero e outras diferenças e desigualdades em universidades e institutos de educação
Reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras de centros criaram a Rede Equidade, que visa elaborar uma política que considere as articulações entre gênero e outras diferenças e desigualdades em universidades e institutos de educação
Reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras de centros criaram a Rede Equidade, que visa elaborar uma política que considere as articulações entre gênero e outras diferenças e desigualdades em universidades e institutos de educação (imagem: reprodução)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Dirigentes de instituições de ensino superior paulistas estão unindo forças para avançar na implementação de políticas de equidade de gênero nas universidades e institutos de educação do Estado de São Paulo.
Na última quarta-feira (08/03), reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras de centro se reuniram em um evento sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – e transmitido ao vivo pelo YouTube – para discutir a consolidação da Rede Equidade, a partir da qual será elaborada uma política de equidade que considere as articulações entre gênero e outras diferenças e desigualdades.
O objetivo é que a política formulada sirva de base para a elaboração de planos de ação construídos por cada instituição. Além da Unicamp, estavam presentes lideranças das universidades de São Paulo (USP), Estadual Paulista (Unesp), Federal de São Paulo (Unifesp), Federal de São Carlos (UFSCar), Federal do ABC (UFABC) e do Instituto Federal de São Paulo.
“É chegado o momento de articular de forma mais explícita os investimentos realizados nos últimos anos para romper obstáculos e o nosso desejo de levar adiante a luta por equidade. É o momento de as lideranças universitárias, reitoras, vice-reitoras, pró-reitoras e diretoras se unirem para firmar o compromisso de suas gestões de apoiar a criação de uma política que vai orientar planos de equidades em cada uma das universidades e institutos paulistas. Planos supõem a realização de diagnósticos precisos, a partir dos quais possam ser definidos objetivos, estratégias e métricas para avaliar as ações executadas”, disse Ana Maria Fonseca de Almeida, da Coordenação do Programa Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) da FAPESP.
“A Rede Equidade foi formada para que pudéssemos ouvir como as outras universidades paulistas e o IFSP estão trabalhando suas políticas de gênero, equidade e diversidade internamente. Saio desse encontro com muitas ideias. A Unicamp tem muito trabalho pela frente”, disse Maria Luiza Moretti, coordenadora geral e vice-reitora da Unicamp.
Além de um diagnóstico e da proposição de uma política pela equidade, uma das tarefas da rede é mostrar que a diversidade é benéfica para a universidade. “Entre tantas tarefas, devemos alcançar que as estruturas da universidade vençam o medo e a descrença de que [com a equidade de gênero e a maior inclusão] a universidade se tornará muito melhor”, disse Silvia Santiago, diretora-executiva de direitos humanos da Unicamp.
De modo geral, o raio X realizado pelas instituições sobre o acesso e a permanência das mulheres nas universidades mostra que, embora em alguns casos haja mais alunas do que alunos na graduação e pós-graduação, assim como mais pesquisadoras que pesquisadores, conforme o nível hierárquico (e de poder) vai subindo ocorre uma redução significativa na participação feminina.
“A própria Rede Equidade foi formada a partir de um diagnóstico que identificou que, apesar de termos gestoras no comando das universidades, a maioria era formada por vice-reitoras. Portanto, partimos de um diálogo para a formação de políticas com ação bastante efetiva”, contou Raiane Assumpção, reitora da Unifesp.
Essa universidade conta com uma produção científica bastante expressiva e equânime entre homens e mulheres. “No entanto, nosso maior desafio está na distribuição de áreas de pós-graduação por gênero. Embora, no geral, 48,2% dos alunos [da Unifesp] sejam mulheres e 51,7%, homens, há uma oscilação. Nas áreas tecnológicas há uma maioria esmagadora de homens, enquanto o contrário acontece em áreas como educação, saúde e ciências humanas”, pontuou Luciana Alves, pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis da Unifesp.
Na USP, 39% do corpo docente é formado por professoras, ressaltou Maria Arminda Nascimento Arruda, vice-reitora da instituição. Desse total, apenas 30% chegam ao fim da carreira e somente 20% chegam a cargos de gestão (diretorias, pró-reitoria, vice-reitoria e reitoria).
“Há na USP uma pequena predominância de alunas [51%] no doutorado. No pós-doutorado, o número de mulheres é predominante. Mas tem o outro lado, a família é constituída enquanto as estudantes estão fazendo doutorado. E foi tendo isso em mente que nós ampliamos o apoio às mães bolsistas, pois elas têm seis meses de licença-maternidade, mas só quatro meses de bolsa. Por isso, precisamos ampliar a relação com as agências de fomento, como a FAPESP, Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Também precisamos saber que os pais precisam ser estimulados a exercer a licença parental”, disse Arruda.
“A universidade é o lugar pelo qual as mulheres direcionam grande parte dos seus sonhos de mobilidade social, educação e socialização e pesquisa. No entanto, essa mesma universidade frustra os sonhos daquelas que pretendem tornar-se docentes e cientistas, pois não progridem na carreira da mesma maneira que os homens, independentemente da área. É preciso priorizar um plano concreto de inclusão das mulheres na carreira docente e um plano de recompensa nas universidades que fazem essas ações”, disse a vice-reitora da USP.
A USP criou, em maio de 2022, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento para assuntos de gêneros, étnico-raciais e socioeconômicos. O órgão incorporou ações que antes eram realizadas pelo escritório USP Mulheres, em atuação desde 2016. “A criação da pró-reitoria é um projeto político. Foi coberta de ceticismo, pois falava-se que não funcionaria. E muito pelo contrário, a pró-reitoria está desenvolvendo diversas iniciativas que são centrais não apenas para pensar a equidade de gênero, mas a uma universidade mais equânime e diversa nos diversos níveis hierárquicos”, afirmou Arruda.
Na avaliação da pró-reitora adjunta de Inclusão e Pertencimento da USP, Miriam Debieux, é preciso promover uma mudança estrutural e social nas universidades e estendê-la para toda a sociedade “que ainda mantém um forte acento patriarcal, sexista e colonial”.
“Nossas ações e políticas devem promover transformações culturais que modifiquem essa realidade para todas as mulheres. Vale ressaltar que não há uma democracia efetiva com desigualdade de raça e de gênero. Portanto, temos muito trabalho pela frente", disse.
No evento, as palestrantes ressaltaram a questão da interseccionalidade – uma vez que os obstáculos ao acesso e à permanência nas universidades não atingem as mulheres de maneira igual, sendo maiores para aquelas que estão em situação socioeconômica vulnerável, mulheres negras, indígenas, com deficiência ou que pertencem à comunidade trans, entre outras.
"Quando falamos de mulheres, não falamos de uma categoria equânime. Trata-se de uma categoria com interseccionalidade de raça, poder socioeconômico e região. Por isso, precisamos observar se o que estamos comemorando no avanço de mais mulheres em lideranças representa mulheres brancas, negras, indígenas e trans”, afirmou Alves, da Unifesp, onde apenas 30,8% dos alunos são identificados como pretos, pardos ou indígenas (PPI) e 69,1% dividem-se entre brancos e asiáticos.
“Quando a gente analisa apenas a população PPI, essa relação se inverte, as mulheres são a maioria com 58,27% dos alunos pretos, pardos e indígenas da universidade. Com base nos índices de escolaridade, isso ocorre porque os meninos pretos e pardos têm uma educação mais acidentada do que as meninas pretas e pardas”, diz Alves.
Ainda de acordo com os dados da Unifesp, na pós-graduação há a predominância de mulheres, mas 73,6% das alunas são brancas e asiáticas e apenas 26,2% são pretas, pardas ou indígenas.
" É um momento de encontro em que a gente começa a fazer quase uma roda de apoio mútuo, porque são muitos problemas e muitas questões que precisamos enfrentar, mas é dessa maneira, com muita troca, que vamos avançando", afirmou Ana Beatriz de Oliveira, reitora da UFSCar.
O encontro também contou com as participações de Maysa Furlan, vice-reitora da Unesp; Claudia Vieira, pró-reitora de assuntos comunitários e políticas afirmativas da UFABC; Ana Lanna, pró-reitora de inclusão e pertencimento da USP; Caroline Jango, diretora-geral do campus de Hortolândia do IFSP, e Diana Junkes, pró-reitora adjunta de pesquisa da UFSCar.
Confira a íntegra do evento em: www.youtube.com/watch?v=5YhIdtN2eh0.
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