Debate foi promovido por agências de fomento à pesquisa da Suécia, dos Estados Unidos e do Japão no âmbito da Reunião Anual do Global Research Council (foto: Karina Toledo/Agência FAPESP)
Debate foi promovido por agências de fomento à pesquisa da Suécia, dos Estados Unidos e do Japão no âmbito da Reunião Anual do Global Research Council
Debate foi promovido por agências de fomento à pesquisa da Suécia, dos Estados Unidos e do Japão no âmbito da Reunião Anual do Global Research Council
Debate foi promovido por agências de fomento à pesquisa da Suécia, dos Estados Unidos e do Japão no âmbito da Reunião Anual do Global Research Council (foto: Karina Toledo/Agência FAPESP)
Karina Toledo, de Haia | Agência FAPESP – Fatores como o avanço tecnológico, a globalização e as mudanças demográficas estão transformando o mundo em que vivemos, tornando-o mais turbulento, polarizado e imprevisível. Essa tensão se manifesta por meio da mudança climática, do acirramento de crises migratórias, conflitos étnicos, desigualdade socioeconômica e autoritarismo, bem como da crescente falta de confiança nas instituições. Para lidar com esses e outros desafios globais, cientistas de todo o mundo precisam cruzar fronteiras e trabalhar em colaboração.
A reflexão foi feita por Andreas Göthenberg, diretor-executivo da Swedish Foundation for International Cooperation in Research and Higher Education (Stint), na abertura do evento “Research integrity and security: Exploring funding agency roles in supporting responsible internationalization and reciprocity”. O encontro integra a programação da Reunião Anual do Global Research Council (GRC), que em 2023 está sendo realizada na cidade de Haia, nos Países Baixos (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/41475/).
“Temos de trabalhar juntos se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS]. Mas um mundo complexo requer uma internacionalização responsável”, ressaltou Göthenberg em sua fala introdutória.
O debate realizado nesta segunda-feira (29/05) foi moderado por Tommy Shih, professor de administração de empresas na Lund University (Suécia). À Agência FAPESP, ele contou que foi recrutado como consultor sênior pela Stint em 2018 para promover a colaboração internacional – missão que, em sua avaliação, tem se tornado mais desafiadora a cada ano.
“Começamos a falar com diferentes agências de fomento sobre esse tema e creio que muitas concordam que [a internacionalização] é algo que está ficando mais complicado. Se compararmos com cinco anos atrás, hoje está muito pior, infelizmente. Precisamos nos preocupar não apenas com aquilo que estamos acostumados enquanto cientistas – como conseguir recursos e ser excelente –, mas também com outros fatores, como a pressão que recebemos de políticos. Daí surgiu essa noção de responsabilidade em pesquisa, que está ligada a questões como integridade e ética”, explicou Shih.
Em 2020, após uma série de discussões iniciais com outras agências de fomento, a Stint lançou um documento com orientações para uma reflexão sobre colaboração acadêmica internacional.
“Buscamos alertar para o fato de que é preciso considerar o esforço científico global num sentido mais amplo que o tradicional, incluindo preocupações com questões políticas e de segurança entre os países. Logo depois que lançamos esse documento, veio a COVID-19 e as discussões pararam por quase dois anos. Retomamos em 2022, quando começamos a trabalhar em parceria com a NSF [National Science Foundation, Estados Unidos] e a JST [Japan Science and Technology Agency], duas agências de fomento que estão bem no meio das tensões entre as superpotências mundiais. É um mundo complexo, mas não alcançaremos nada se ficarmos com medo. Temos de nos engajar, mas de forma responsável”, afirmou Shih.
O papel das agências de fomento
O debate desta segunda-feira dá continuidade às discussões de um workshop realizado em outubro de 2022, no Japão. Na ocasião, uma das conclusões foi a de que, nesse mundo complexo e em transformação, as agências de fomento têm o papel crucial de promover treinamentos e de ajudar a desenvolver uma cultura de segurança em pesquisa, contou em sua palestra o matemático Mike Steele, diretor de programa na Divisão de Pesquisa sobre Aprendizagem da NSF.
“Por que é importante termos esta discussão? Porque queremos que os pesquisadores que financiamos e que estão envolvidos nessas colaborações tenham essas discussões”, disse Steele à Agência FAPESP. “Estamos tentando estabelecer alguns valores fundamentais para o financiamento de colaborações internacionais, entre eles transparência, reciprocidade e abertura [ciência aberta]. E buscando meios de evitar conflitos de interesse e outros tipos de influência que podem minar a confiança do público na ciência.”
“Gostaria de enfatizar a questão da reciprocidade, que é o que estamos discutindo nesta sessão”, acrescentou Kendra Sharp, chefe do escritório de Ciência Internacional e Engenharia da NSF.
Como explicou a engenheira, uma colaboração recíproca envolve múltiplos aspectos, entre eles acesso igualitário a dados de pesquisa, entendimento claro sobre propriedade intelectual e sobre os padrões de publicação, além de acesso à mobilidade de estudantes, pesquisadores e professores. “Reciprocidade não requer necessariamente um investimento financeiro equivalente, mas a percepção de que todos os envolvidos se beneficiam com a colaboração.”
E este é o ponto-chave da discussão, na avaliação de Shih. Segundo ele, um dos principais obstáculos para o avanço da internacionalização é a sensação de que a relação entre os parceiros não é recíproca. E esse tipo de discussão facilita o entendimento sobre o que cada lado ganha com a colaboração.
“Os cientistas muitas vezes não percebem as fronteiras nacionais e tendem a achar que seus projetos criam valor para eles assim como para a humanidade como um todo. Mas a lógica da política é outra: se os pagadores de impostos estão financiando uma pesquisa, devem receber algo em troca. Temos de comunicar melhor o que estamos ganhando em troca e como isso cria valor para a economia e aumenta a capacidade de inovação de um país. Isso tornará o processo mais fácil e dará mais margem de manobra às agências de fomento”, afirmou.
Outros palestrantes do evento foram Nicole Arbour, diretora-executiva do Belmont Forum; Stefan Törnqvist, chefe da Secretaria de Coordenação Internacional do Swedish Research Council; Osamu Kobayashi, diretor do Departamento de Assuntos Internacionais da JST; e Anak Khantachawana, professor da King Mongkut's University of Technology Thonburi (Tailândia).
A Reunião Anual do GRC – entidade que reúne mais de 60 agências de fomento à pesquisa de todos os continentes – segue até sexta-feira (02/06) em Haia. Os organizadores da edição de 2023 são a Organização Neerlandesa para a Pesquisa Científica (NWO) e a FAPESP.
Para mais informações acesse: https://fapesp.br/grc23.
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