Reconstrução tridimensional de um salto do goleiro durante o estudo (crédito: Laboratório de Biomecânica e Controle Motor/USP)
Constatação foi feita por pesquisadores da USP após experimento com dez atletas. Desempenho do salto foi analisado com técnica de reconstrução tridimensional do corpo
Constatação foi feita por pesquisadores da USP após experimento com dez atletas. Desempenho do salto foi analisado com técnica de reconstrução tridimensional do corpo
Reconstrução tridimensional de um salto do goleiro durante o estudo (crédito: Laboratório de Biomecânica e Controle Motor/USP)
Ricardo Muniz | Agência FAPESP – Em 2019, a Federação Internacional de Futebol (Fifa, na sigla em francês) rendeu-se à teimosia dos goleiros e ao receio de obrigar os juízes a repetir demais cobranças de pênalti e permitiu aos defensores colocar um pé à frente da linha do gol no momento mais tenso – gerador de glórias e frustrações – desse esporte. Antes, até o momento de o jogador tocar na bola, o goleiro tinha de manter os dois pés na linha do gol. Se tirasse um dos membros e avançasse, tocando a frente da linha do gol, o pênalti tinha de ser invalidado e batido de novo.
“Com a introdução do VAR isso ficou muito claro, porque todos os goleiros colocavam o pé à frente ou tiravam o pé da projeção da linha para tentar um melhor desempenho”, explica Paulo Roberto Pereira Santiago, professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EEFERP-USP). “Então o que a Fifa acabou fazendo em 2019 foi permitir que o goleiro, desde que um pé permaneça na linha, pudesse colocar o outro bem à frente, ou fizesse a famosa passada frontal para ter melhor propulsão e velocidade de saída”, diz Santiago, doutor em ciências da motricidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e engenheiro de computação formado pela Universidade Virtual de São Paulo (Univesp).
Estudo liderado pelo pesquisador e publicado na revista Scientific Reports demonstra que os goleiros saíram ganhando com a mudança. O trabalho resulta da pesquisa de iniciação científica de Rafael Luiz Martins Monteiro, apoiada pela FAPESP.
O experimento foi conduzido dentro do Laboratório de Biomecânica e Controle Motor da EEFERP-USP com seis goleiros de futebol profissional e quatro amadores. Eles realizaram 20 saltos, sendo dez para o lado preferido e dez para o lado não dominante, utilizando tanto a regra antiga quanto a regra nova de salto. Os resultados mostraram que os goleiros saltam mais e com maior velocidade com a norma atual. Foi considerada a “lateralidade” do atleta por meio de um questionário, em que o jogador informava sua preferência de salto à direita ou à esquerda.
“Esse dado poderia ter uma influência. Para membro inferior, na questão do salto, é invertido. E o que foi verificado é que o lado não dominante apresenta valores maiores quando comparado com o dominante do goleiro no salto, o que é comum porque, geralmente quando ele tem dominância para a direita, salta melhor com a perna esquerda, que é o membro de apoio ou impulsão.”
Para fazer a análise o grupo de pesquisa mediu o desempenho de salto com técnica de reconstrução tridimensional do corpo do goleiro, utilizando o mesmo sistema de captura de movimento usado para programar jogos de computador e criar animação. “A gente fazia a reconstrução do goleiro saltando e depois tomava as medidas do ponto de vista da cinemática e da biomecânica para verificar desempenho de saída do goleiro, ângulo e velocidade”, detalha Santiago. Além disso, foram utilizadas duas plataformas de força, que são balanças no chão capazes de medir a força que o goleiro aplicava com a regra antiga e com a atual. Com esses dados foi possível fazer as análises estatísticas e constatar que a capitulação da Fifa à rebeldia dos defensores influenciou para melhor o desempenho dos atletas.
“Provavelmente, essa introdução em 2019 ocorreu porque quase todos faziam isso e era muito difícil retornar a batida do pênalti. O árbitro não tinha condição de verificar em tempo real ali, a olho nu, se o goleiro adiantava ou não o pé e, com o VAR, em praticamente todos os lances ia ter de ficar mandando voltar, porque agora há assistência do vídeo”, pondera Santiago, que atua principalmente nas áreas da biomecânica e engenharia de computação aplicadas ao esporte e exercício físico.
O grupo de Santiago trabalhou em outro estudo, em fase de submissão para publicação, em que a pergunta é se isso também acontece fora de um ambiente de laboratório. “Nesta pesquisa utilizamos técnicas de vídeo com inteligência artificial [aprendizado de máquina] e fizemos a medida dos movimentos do goleiro no campo de futebol.”
Os trabalhos do grupo também foram apoiados pela FAPESP por meio de outros cinco projetos (19/17729-0 ,19/22262-3, 20/11946-6, 19/16253-1 e 21/00050-4).
O artigo Penalty feet positioning rule modification and laterality effect on soccer goalkeepers’ diving kinematics pode ser lido em: https://www.nature.com/articles/s41598-022-21508-6.
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