Na avaliação de Mayana Zatz (à esquerda) e de Helena Nader, houve avanços importantes na inclusão de gênero na academia brasileira (foto: Agência FAPESP)
Em entrevista ao Centro de Memória FAPESP, Helena Nader e Mayana Zatz falam sobre discriminação de gênero, carreira de pesquisa e militância política pela ciência
Em entrevista ao Centro de Memória FAPESP, Helena Nader e Mayana Zatz falam sobre discriminação de gênero, carreira de pesquisa e militância política pela ciência
Na avaliação de Mayana Zatz (à esquerda) e de Helena Nader, houve avanços importantes na inclusão de gênero na academia brasileira (foto: Agência FAPESP)
Agência FAPESP – Quando Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ingressou no curso de biomedicina na então Escola Paulista de Medicina – hoje Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) –, no final dos anos 1960, a grande maioria de seus colegas era homem. “Não sentia discriminação no sentido do pertencimento, mas tínhamos de provar que erámos tão boas quanto eles e até melhor”, afirmou. Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), lembra que, na mesma época, no curso de biologia da Universidade de São Paulo (USP) o número de homens e mulheres era equivalente e nunca se sentiu discriminada.
Porém, ambas afirmaram ao Centro de Memória FAPESP terem sentido o peso da discriminação nos Estados Unidos, na década de 1970, no pós-doutorado. “Lá sim há diferença entre homem e mulher. Diferença inclusive no salário, que é combinado, e não existe licença-maternidade”, disse Zatz. “Até hoje isso acontece nos Estados Unidos e na Europa. A estrutura de apoio é antiparticipação da mulher na vida acadêmica”, completou Nader.
Em entrevista, ambas concluíram que, no Brasil, “pelo menos na academia”, houve avanços importantes na inclusão de gênero, diferentemente de outros países do mundo. “Mas precisamos de mais equidade em todas as áreas e profissões”, sublinhou Nader.
Nader e Zatz falaram sobre as dificuldades dos jovens de fazer carreira de pesquisa no país, por conta dos valores das bolsas de doutorado, de pós-doutorado e da perda do poder aquisitivo do professor universitário. “Por isso estamos tendo tanta fuga de cérebro”, disse Zatz. “Hoje, dependendo da área, muita gente não quer mais ser professor”, afirmou Nader.
Contaram histórias de suas trajetórias de pesquisa e da militância de ambas na política pela ciência. À frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) por seis anos, Nader teve, entre suas principais bandeiras, a luta pelo descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Zatz teve forte atuação no processo de votação da Lei de Biossegurança, tanto no Congresso como no Supremo Tribunal Federal (STF). “Ser só cientista não é suficiente”, afirmou Zatz.
Trataram também da urgência do diálogo do cientista com a sociedade e da importância da relação da pesquisa com a mídia. “É preciso pautar a importância da ciência.”
A conversa com Nader e Zatz integra uma série de entrevistas realizadas pelo Centro de Memória FAPESP, lançado em maio com a missão de contribuir para a preservação da história da Fundação e a memória da pesquisa no Estado de São Paulo.
O site conta com um acervo de documentos relacionados a 39 mil projetos apoiados entre o ano de criação da FAPESP (1962) e 1992, mais 5 mil arquivos digitais com entrevistas, fotos, vídeos, publicações sobre a instituição, programas de pesquisa, relatórios e reportagens da Agência FAPESP e da revista Pesquisa FAPESP, entre outros, além da primeira exposição temática, que conta a história do Projeto Genoma.
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