Plataforma se apoia em trilhas de aprendizado criadas sob medida (imagem: Xeduca/divulgação)
Plataforma desenvolvida por startup apoiada pelo PIPE-FAPESP é baseada em método voltado ao ensino de adultos a partir de técnicas que consideram os comportamentos e as motivações dessa faixa etária
Plataforma desenvolvida por startup apoiada pelo PIPE-FAPESP é baseada em método voltado ao ensino de adultos a partir de técnicas que consideram os comportamentos e as motivações dessa faixa etária
Plataforma se apoia em trilhas de aprendizado criadas sob medida (imagem: Xeduca/divulgação)
Roseli Andrion | Agência FAPESP – Um sistema que permite capacitar profissionais em grande escala de forma personalizada, simples e ágil. Essa é a proposta da Xeduca, startup paulista que emprega realidade virtual, metodologias ativas e ensino adaptativo para treinamento corporativo.
Com aplicação da andragogia – método voltado ao ensino de adultos a partir de técnicas que consideram os comportamentos e as motivações dessa faixa etária –, o sistema, desenvolvido com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, se apoia em trilhas de aprendizado criadas sob medida. A partir delas, é possível obter melhorias em diferentes aspectos operacionais, como a maior padronização de procedimentos, enquanto se respeita a curva de aprendizado individual dos profissionais.
O projeto teve início em 2013, durante pesquisas feitas por Antonio Valerio Netto, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do projeto, que estuda metodologias de ensino e tecnologia educacional.
Um estudo de mercado apontou que uma das grandes dificuldades das organizações é garantir que as habilidades e as atitudes de seus profissionais estejam alinhadas às necessidades e aos propósitos da empresa. Isso ocorre porque o treinamento para atividades operacionais é basicamente teórico e não envolve os participantes, que na maioria das vezes não estão adaptados ao aprendizado tradicional.
A partir da avaliação desses aspectos, foi criada a metodologia usada pela Xeduca. O processo usa análise de competências CHA (sigla de Conhecimento, Habilidades e Atitudes) e vai além do saber teórico (o conhecimento mencionado na sigla). “No nosso modelo, incluímos a habilidade, ou seja, o saber fazer, e a atitude, que é o querer fazer, isto é, o que nos impulsiona a executar nossas habilidades e conhecimentos”, explica Michele Ferraz, gestora de growth da empresa. O método criado pela Xeduca permite ter um modelo de aprendizado com base nos padrões definidos pelo cliente para ser replicado entre os trabalhadores. “Toda empresa tem um funcionário modelo que gostaria de duplicar e, com a plataforma, isso é possível”, afirma Ferraz. Trata-se, portanto, de uma solução totalmente voltada para as necessidades e especificidades do cliente.
Além disso, a Xeduca usa algoritmos analíticos para avaliar o desempenho dos colaboradores e aumentar o engajamento por meio da personalização da trilha de aprendizado. Assim, pode-se atingir um nível de retenção do conhecimento tão bom ou melhor do que aquele obtido com as técnicas tradicionais.
Outra vantagem é incluir participantes espalhados geograficamente e/ou que trabalham em turnos. Dessa forma, mantém-se o padrão do treinamento, com economia em logística – tanto com deslocamento quanto com infraestrutura – e ainda com garantia de interrupção mínima das operações. Em todos os cenários, portanto, o custo é menor.
Uso em diferentes contextos
O sistema já tem sido aplicado em diferentes contextos das áreas de segurança, facilities e saúde. Um dos parceiros que testaram a solução foi a multinacional Onet Brasil. A companhia aplicou a metodologia na capacitação de profissionais de limpeza hospitalar – especificamente os encarregados da área. Para o projeto, foram criados ambientes e processos virtuais idênticos à realidade da unidade de saúde escolhida. Os participantes receberam até o momento quatro sessões (de um total de seis) de treinamento individual com foco em procedimentos críticos da operação do dia a dia.
Com isso, já foram observados ganhos significativos em diferentes aspectos da rotina operacional. A maior padronização dos procedimentos executados, por exemplo, afeta diretamente a disponibilidade dos leitos da unidade de saúde. “Além disso, houve um maior senso de pertencimento dos profissionais”, diz Ferraz. Para as empresas, tudo isso deve ajudar a reduzir a rotatividade e aumentar a eficiência, bem como melhorar a integração de novos colaboradores.
A solução pode ser aplicada em qualquer área, já que é composta de trilhas de aprendizagem que permitem a capacitação em diferentes técnicas. “A interatividade presente na plataforma garante que o interesse do participante seja mantido – e, no aprendizado para adultos, um dos maiores desafios é a dispersão”, avalia. “A interatividade aumenta o envolvimento e o participante gosta de estar ali aprendendo.”
A pesquisadora aponta que um dos diferenciais da plataforma é a capacidade de qualificar habilidades e atitudes. “O treinador consegue identificar o que é preciso aprimorar e pode avaliar as atitudes do profissional.” Segundo ela, uma das dificuldades dos treinamentos corporativos é justamente saber se a atitude do colaborador está adequada. “Em segurança, por exemplo, é essencial treinar a atitude do empregado. Na plataforma, tudo é controlado: não há armas nem pessoas reais. É um ambiente idêntico e muito mais seguro.”
De acordo com Ferraz, o conceito da startup é único, ou seja, não há sistemas com os mesmos elementos em outras ferramentas disponíveis no mercado. “Há opções em que se usam os óculos 3D [tridimensionais], mas a solução da Xeduca não é apenas isso – apesar de os óculos chamarem muita atenção. Temos, por exemplo, uma alternativa mobile não imersiva que pode ser usada por qualquer um, em que a interação se dá por reconhecimento de voz. Esse modelo permite que aqueles que passam mal com os óculos possam realizar seu treinamento de forma não imersiva”, explica.
O maior propósito da empresa é promover uma melhora acentuada na atitude dos profissionais de campo, principalmente aqueles que lidam com o público em geral e que precisam manter um padrão de atendimento em unidades espalhadas em várias cidades, por exemplo. “A metodologia pode ser aplicada, ainda, a necessidades com recrutamento e seleção de profissionais, além de realocação de perfis em postos com maior aptidão”, aponta Ferraz.
A pesquisadora destaca que os pilares da startup são as trilhas de aprendizagem personalizadas, a metodologia andragógica (voltada para a capacitação de adultos) e o treinamento de habilidades e atitudes. “Para unir tudo isso, o processo começa com uma consultoria e todo o conteúdo é desenvolvido com base nas necessidades do cliente. Hoje, não conhecemos na América Latina alguém que faça isso da forma como nós fazemos”, compara.
Atualmente, a Xeduca participa do PIPE Invest – modalidade de apoio a startups e pequenas e médias empresas financiadas pelo PIPE, que já tenham iniciado o desenvolvimento de processos ou produtos inovadores com grande potencial de sucesso e que já contem com o interesse de um investidor. A empresa recebeu também investimento do grupo Digitron, liderado pelo CEO Sung Un Song.
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